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Usar a imaginação, encontrar uma solução, dar a volta ao problema em tempos de Covid-19.

O mundo mudou de repente para toda a gente com o impacto do Coronavírus 2019-nCoV., e os restaurantes sentiram o impacto de uma forma avassaladora.

Os clientes já tinham começado a desaparecer gradualmente com a multiplicação de notícias sobre os primeiros infetados quando o Governo pediu a restrição do número de pessoas dentro de cada estabelecimento. Mas, rapidamente foi anunciado o estado de emergência e a indicação de que seria preciso fechar as portas.

Com os contactos sociais reduzidos ao mínimo, chefscozinheiros e donos de restaurantes viram as suas portas fechadas e obrigados a unir esforços para serem criativos e encontrar soluções para rentabilizar o negócio.

Falamos com o proprietário, Eurico Silva, de um dos espaços que se superou diariamente para resistir ao impacto que o Covid-19, O Filho da Mãe.

M: Qual o primeiro impacto com o Coronavírus? Como foi o processo até encerrar?

OFDM: Começamos a notar o decréscimo de clientes nos primeiros dias de Março, ainda mal se falava da pandemia em Portugal. Rapidamente antecipei o encerramento porque comecei a perceber a realidade e acima de tudo quis preservar o bem estar da minha equipa.

M: De que forma conseguiram permanecer a servir, assegurando o pagamento de ordenados e as despesas mensais do estabelecimento?

OFDM: Bloqueei durante duas semanas, acho que toda a gente bloqueou, mas rapidamente “mudei O chip” e comecei a trabalhar em casa. Vimo-nos forçados a entrar em lay off parcial e trabalhei  por videoconferência com a minha equipa. Decidimos avançar para o desenvolvimento de novos pratos e afinar alguns que sentimos necessitarem de tempo. E, avançamos para o serviço de Take Away e Home Delivery logo no arranque de Abril, com redução de horário e, eu próprio, assumi as entregas em mãos aos clientes. Seguimos todas as orientações e fizemos todo esse processo com todos os cuidados e segurança. O feedback dessa reinvenção foi e é muito positivo. Reforcei a ligação com clientes habituais e angariei novos clientes durante esta fase. Correu melhor do que era previsto. Eu costumo dizer que faço por ver a crise como oportunidade, momento não de baixar os braços mas sim o oposto, levantar a cabeça e ir à luta, adaptação a uma nova realidade, momento de nos reinventarmos e levarmos o projeto para a frente.

M: Qual foi a reestruturação da equipa e de que forma se organizaram para realizar os novos serviços?

OFDM: Mantive a mesma equipa, apenas algumas adaptações a nível logístico e redução de horários. A equipa estava a trabalhar em tempo parcial dentro do restaurante de forma segura e com todos os cuidados e eu assumi as entregas. Trabalhei também paralelamente com os outros dois players, a UberEats e a ComerEmCasa.

M: Que medidas tomaram para garantir a segurança dos clientes e colaboradores do seu negócio?

OFDM: Tomamos todas as medidas e segui à risca todas as orientações da DGS. Contratei uma empresa certificada que realizou uma limpeza e desinfeção total ao restaurante e, além disso estabelecemos, ainda, regras adicionais de higiene e segurança, como por exemplo, a troca de roupa do exterior para o restaurante.

M: Distribuidores da área alimentar, de bebidas e outros têm sido afetados. De que forma conseguem ajudar toda esta rede? Como não falhar aos fornecedores?

OFDM: Toda a gente e todos os sectores foram afetados, mas estive em constante contacto com todos os fornecedores e distribuidores e, apesar da fase difícil assumimos desde logo essa preocupação em resolver tudo da melhor maneira e o mais rápido possível.   

M: A pandemia antecipa mudanças que já estavam em curso. Mas é a forma como os estabelecimentos enfrentarão a crise que irá indicar o quanto continuarão relevantes na sociedade e como nos vão restaurar através da comida. Como serão os restaurantes no pós-pandemia?

OFDM: os restaurantes eram e são dos locais mais seguros, já seguem (ou pelo menos deviam seguir) um conjunto de regras e normas de higiene e segurança. Regras que agora apenas foram reforçadas como novas orientações da DGS para o bem de todos. O mundo mudou é verdade, existe uma nova realidade e é necessário uma adaptação a esta nova realidade, mas acredito na retoma, que apesar de lenta vai acontecer. Costumo dizer que os que já eram bons antes da pandemia vão sobreviver, porque não será uma pandemia que vai deitar por água abaixo todo o trabalho e percurso incrível.

M: Uma das orientações dirigidas aos estabelecimentos de restauração e bebidas é o redesenho do espaço, de modo a assegurar a distância de segurança recomendada. Como vão responder às normas da DGS para reestruturação das mesas no vosso espaço?

OFDM: Estamos a seguir todas as orientações da DGS, só podemos ter 50% dos lugares sentados no interior, respeitando mesmo assim os 2 metros de distância entre as mesas, no exterior a única indicação é que respeitemos os dois metros entre as mesas podendo até expandir a esplanada. Neste momento, sem dúvida que alguns clientes estão reticentes mas é nossa tarefa provar que podem continuar a ter uma excelente experiência mesmo com todas as condicionantes. Os clientes devem, então, utilizar máscara nas áreas comuns do restaurantes, foram colocados QRCodes acessíveis com o acesso digital às cartas, temos uma quadro em ardósia gigante com a carta e temos, ainda, para quem solicitar as cartas plastificadas que são desinfetadas a cada utilização. Colocamos também uma solução de álcool gel em cada mesa para que os clientes desinfetem as mãos assim que desejarem.

M: Outra opção para a nova fase em que se encontra todo o mercado, é o privilegiar o atendimento em zonas exteriores. Entendem que a valorização de espaços ao ar livre é uma opção que pode agradar, ainda mais, os clientes?

OFDM: Sem dúvida. Neste momento, 90% dos nossos clientes pretendem mesa na esplanada, motivo também pelas noites incríveis que se fazer refletir neste pós-confinamento. Nesse sentido, estamos a investir na esplanada, procurando o melhor conforto possível para provocar a melhor experiência a quem nos visita. Respeitando sempre os 2 metros de distância entre as mesas e tentando aplicar dois turnos distintos para responder da melhor maneira à procura e assim rentabilizar ao máximo o espaço. Dessa forma,  estamos a abrir mais cedo ao jantar e trabalhar com dois turnos, 19h/21h e 21h/23h.